segunda-feira, 17 de dezembro de 2012


EXORTAÇÃO PASTORAL DE SUA EXCIA. REVMA. DOM DULCÊNIO FONTES DE MATOS AOS PASTORES E FIÉIS DA DIOCESE DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS ACERCA DA IMPORTÂNCIA DAS ESCOLAS PAROQUIAIS DA FÉ E DA CATEQUESE PERMANENTE


Estimados diocesanos e diocesanas,

No último dia 31 de outubro, o Santo Padre Bento XVI iniciou para todo o mundo católico o Ano da Fé em recordação aos 50 anos do início do Concílio Vaticano II e dos 20 anos da promulgação do Catecismo da Igreja Católica. Neste sentido, foi discutida e aprovada com unanimidade em nossa última Assembleia Diocesana de Pastoral (acontecida dos dias 13 a 15 de dezembro deste) a criação da Escola da Fé em todas as paróquias do nosso bispado. Esta escola tratará de inserir os fiéis na consciência cada vez mais profunda e polida da fé católica que professam desde o Batismo, ao tempo em que se primará pelo estudo e compreensão da Palavra de Deus (Tradição e Escritura), disciplinando pela apreensão do Catecismo da Igreja Católica e das Sagradas Escrituras, respectivamente. Este intento, além de ser um fruto concretíssimo desta vivência do Ano da Fé proposto pela Igreja Universal, fará com que, como pastores, façamos valer ainda mais o múnus de ensinar da Igreja, graças ao sacerdócio de Cristo Mestre que portamos. Este múnus, visivelmente, parte de nossa fraqueza, enquanto Bispo, Sucessor dos Apóstolos, e alcança os nossos colaboradores imediatos, ou seja, os nossos sacerdotes para a instrução do Povo de Deus a nós confiado, guiando-os no seguimento a Cristo, “Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14,6).
Somente somos capazes de amar aquilo que conhecemos. Esta nossa afirmação tem por base a sabedoria do nosso povo simples, mas que é antecipada pela Escritura Sagrada: “Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1Jo 4,8). O mundo ama? Sim, ele ama. Mas o que ama? Esta interrogação se faz latente. O mundo ama Deus? Mesmo tendo o dado de que o nome de Deus é dito ‘aos quatro ventos’ por aí, infelizmente o mundo não ama a Deus de todo coração, de toda a alma e com todas as forças (cf. Dt 6,5). E, como cristãos, pessoas supostamente experimentadas no amor a Deus, seres que fizemos uma experiência profunda com a pessoa de Jesus, queremos enraizar-nos ainda mais nestes sentimentos eminentemente salutares, ao tempo em que queremos trazer outros para este doce convívio entre o homem e o divino. Esta é a nossa missão profética recebida em nosso Batismo e sustentada em nossa Crisma. Se queremos que o Reino de Deus cresça, é preciso amar e, a partir deste movimento inicial, fundamental, é preciso termos sede Dele (cf. Sl 41,3), e para saciá-la, não há outra via senão o de um mergulhar no seu Mistério pelos sacramentos e por Sua Palavra Divina (Escritura e Tradição, clarificadas pelo ensinamento da Igreja). Assim sendo, não queremos um mundo novo que se encerre aqui nesta terra que para nós é de exílio. Mas desejamos veementemente que o Reino de Deus, iniciado por Jesus na ocasião de Sua primeira vinda, abranja este mundo passageiro a fim de levar todos os que O aceitam para as realidades eternais onde seremos um Nele.
É preciso superar o comodismo e incutir no coração dos fiéis católicos aquilo que a Igreja ensina: a necessidade de uma catequese que não somente prepare para momentos ápices da vida do crente, como é o caso da catequese pró-sacramento, tal como acontece na preparação de pais e padrinhos para o Batismo de nossos catecúmenos, ou para a Primeira Comunhão e para a Crisma, mas é extremamente importante uma catequese que permeie toda a vida do fiel em qualquer idade. É o que chamamos de ‘catequese permanente’. E é justamente isso que desejamos fazer a partir das Escolas de Fé em cada paróquia: seremos catequizados, constantemente atualizados. Utilizando um termo muito em voga, seremos perenemente reciclados no conhecimento daquilo que cremos: a mesma fé da Igreja Católica Apostólica Romana.
Desde a antiguidade da Igreja, a função de preceptor do catequista, de acompanhante na fé dos neo-convertidos foi de suma importância. Logicamente, como a história da Igreja é contínua, a figura do bispo e do sacerdote como proto-catequistas nunca foi olvidada. Esta era tão presente que surgiram as cátedras e as sedes em nossos templos, cadeiras em que o clérigo oficiava o seu ministério do ensino, rememorando a atitude do próprio Senhor que, em algumas passagens do Evangelho, sentava-se para falar dos mistérios do Reino (cf. Mt 5-7; 13,1-35; Jo 6,3ss; 8,2ss; 13,12-20). Esta atitude do Mestre denota a sua autoridade. Com a mesma autoridade que recebemos do próprio Senhor através da Igreja, pelo sacramento da Ordem, o Bispo e seu Clero devemos ser os mais interessados em falar de Deus e da fé que a Igreja piamente professa aos que nos foram confiados. Esquivar-se desta função é deixar as ovelhas do Senhor ao léu, à sorte de predadores sem conta que as rodeiam a fim de trucidá-las. E, independentemente disto acontecer, prestaremos contas daquilo que nos foi conferido por mandato divino.
Ao perceberem a disposição ininterrupta e incansável dos pastores no desejo de fazer com que Deus seja mais amado e conhecido pelo estudo dos mistérios da nossa fé, os fiéis deverão, pelo encargo de suas consciências, sentir-se vivamente invitados à frequência dos encontros da Escola Paroquial da Fé, com o anseio de sempre mais mergulhar na fonte viva, indescritível e inebriante chamada Deus. Este sentimento de ‘tornar-se íntimo’ do Senhor deve ser crescente em nós e fazer com que sejamos carecidos Dele. E o lugar primordial para isto é o coração humano tocado pela pregação inspirada da Igreja pelo Espírito, que passa pelas instruções dos seus pastores.
O debruçar-se sobre o conteúdo de fé da Igreja (Lex credendi) produzirá efeitos inenarráveis na vida orante (Lex orandi) e celebrativa do nosso povo (Ars Celebranda), que se sobrelevará em seu espírito devoto, inclusive na Liturgia. Este melhoramento no crer inspirará a missionariedade da Igreja em uma espécie de corrente de fé, a quem muitos virão juntar-se graças ao testemunho fidedigno que os nossos fiéis darão de Cristo. E sabemos que é o testemunho quem arrasta muito mais do que palavras.   
Neste momento, reportamo-nos a Maria, a felizarda porque acreditou (cf. Lc 1,45). Consagramos esta nossa atividade evangelizadora a Deus por meio do seu Imaculado Coração. A Virgem Maria, Estrela da Evangelização, inspirar-nos-á com o seu testemunho eloquentíssimo de fé; ela que tudo conservava e meditava em seu coração (cf. Lc 2,19.59), ajudar-nos-á a seguir o seu exemplo de perfeita discípula do Senhor, ela a quem pertence a primazia da escuta a Deus e a Igreja, que também é Mãe e Mestra.
Dado em Palmeira dos Índios, na Sé Episcopal, no dia 15 de dezembro do ano do Senhor de 2012, sétimo ano de nosso pastoreio episcopal nesta Igreja particular.


+ Dulcênio Fontes de Matos
Bispo Diocesano de Palmeira dos Índios

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