sábado, 17 de setembro de 2011

«IDE TAMBÉM PARA A MINHA VINHA»


Comentário ao Evangelho por São Gregório Magno (c. 540-604)
 Papa & Doutor da Igreja(*)


O Senhor não pára, em tempo algum, de enviar trabalhadores para cultivar a Sua vinha [...]: através dos patriarcas, dos doutores da Lei e dos profetas e, finalmente, através dos apóstolos, Ele procurava, por assim dizer, que a Sua vinha fosse cultivada por intermédio dos Seus trabalhadores. Todos aqueles que, a uma fé firme, acrescentaram boas obras, foram os trabalhadores dessa vinha [...].
Os trabalhadores contratados desde o nascer do dia, da hora terceira, da sexta e da nona designam portanto o antigo povo hebreu que, aplicando-se [...], desde o começo do mundo, a prestar culto a Deus com fé firme, não parou, por assim dizer, de se empenhar na cultura da vinha. Mas à décima-primeira hora os pagãos foram chamados, tendo-lhes sido dirigidas estas palavras: «Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?» De facto, ao longo de todo aquele lapso de tempo por que o mundo passou, os pagãos tinham negligenciado o trabalho que leva à vida eterna, e ali estavam, daquela maneira, o dia inteiro sem nada fazer. Mas reparai bem, irmãos, o que respondem à pergunta que lhes é feita: «É que ninguém nos contratou.» De facto, patriarca algum ou profeta se acercara deles. E que quererão estas palavras dizer: «Ninguém nos contratou para trabalhar», a não ser: «Ninguém nos pregou os caminhos da vida»?


(*) Gregório nasceu em Roma numa família da aristocracia tradicional e principal romana, filho de Gordiaus e de Santa Sílvia, de apelido Anícia. Chegou a perseguir uma carreira política que o levou ao cargo de prefeito da cidade.
Em cerca de 575, Gregório ingressa num mosteiro e assume a vida religiosa por influência dos escritos e personalidade de São Bento.
Converteu sua casa no monte Célio no mosteiro de Santo André e fundou seis outros nas terras de sua família, na Sicília.
Foi também apocrisiário em Constantinopla.
Enquanto papa, Gregório foi o responsável pelo envio dos primeiros missionários para converter os anglo-saxões nas Ilhas Britânicas (tendo enviado para lá um grupo de quarenta monges beneditinos, liderados por Agostinho de Cantuária, que seria o primeiro arcebispo de Cantuária - a chamada Missão gregoriana).
É ainda responsável pela divulgação do tipo de música que é hoje em dia conhecido como canto gregoriano.
Deixou extensa obra escrita, incluindo sermões e comentários sobre a Bíblia, como o livro Moralia, que comenta o livro de Jó, e volumes de correspondência.
Também foi responsável pela compilação dos sete pecados capitais - a soberba, a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, a gula e a preguiça - adaptando para o Ocidente a partir das oito tentações descritas pelo monge Evágrio do Ponto, dois séculos antes.
Durante seu pontificado, o Patriarca de Constantinopla João IV Nesteutes deu a si mesmo o título de Ekumenikós (Ecumênico), afirmando estar acima de todos os bispos do mundo. Em resposta o Papa Gregório se atribuiu o título de Servus Servorum Dei (Servo dos Servos de Deus), representando a função pastoral e colegial do papa, título esse que seus sucessores mantiveram e mantêm até hoje, visto que este é um dos títulos oficiais do Papa Bento XVI.

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