sexta-feira, 28 de junho de 2013

Nas origens do culto para os padroeiros de Roma




Dia 29 de Junho a Igreja celebra a solenidade dos santos Pedro e Paulo. O seu culto, na cidade de Roma, remonta aos primeiros séculos da cristandade. Num hino em honra de Pedro e Paulo do início do século V atribuído a santo Ambrósio – recorda Carlo Carletti - lê-se «”Grandes multidões se dirigem para uma cidade tão ilustre: em três vias celebra-se a festa dos santos mártires”. Assim. Uma imagem indubitavelmente incisiva que capta o movimento in itinere dos peregrinos rumo a três lugares diversos da cidade (trinis viis celebrantur), onde a 29 de Junho se comemorava a memória conjunta dos dois apóstolos: na colina do Vaticano, na Via Ostiense, na localidade in catacumbas na via Appia. Esta tríplice comemoração é já mencionada no mais antigo calendário litúrgico da Igreja romana – a depositio martyrum do tempo de Papa Marcos (336) - com a anotação cronológica do ano 258, que se refere ao início de uma celebração apostólica na via Appia. Daqui, numa época sucessiva, conflui de forma mais definida e melhor articulada na redacção bernense do Martirologium Hieronymianum, compilada no tempo de Estêvão II (752-757): “29 de Junho. Em Roma no dia aniversário dos apóstolos: de Pedro na via Aurélia no Vaticano, de Paulo na via Ostiense; de ambos in catacumbas desde o ano do consolado de Tuscus e Bassus (258)”».
E Frabrizio Bisconti prolonga-se no comentário a uma sugestiva imagem, a do afresco encontrado nas catacumbas da ex-Vigna Caraviglio perto de são Sebastião: «A representação, atribuível à segunda metade do século IV, vê seis figuras masculinas, vestidas com túnica e palio, dispostas em sucessão e separadas por finas palmeiras. As imagens propõem um simétrico crescendo gestual que, da imobilidade filosófica das personagens extremas, passa para a adclamatio  e para o forte abraço dos príncipes dos apóstolos, que reconhecemos nas características fisionómicas com as mais definidas marcas romanas. Se a gama cromática resulta extremamente pobre, a estrutura iconográfica é meditada e original, a ponto que se pensa que seja inspirada num manifesto figurativo monumental, representado num local incerto, talvez precisamente no complexo de São Sebastião, que, como se sabe, é reconhecido, em antigo, como memória apostolorum».
O abraço entre Pedro e Paulo, escreve Bisconti, «insere-se perfeitamente numa atmosfera político-religiosa, que vê o confronto com os últimos baluartes da resistência pagã e se propõe como imagem emblemática da dupla apostolicidade de Roma, uma espécie de manifesto, mas também «um convite  à conversão dos pagãos», como observava anos antes Richard Krautheimer, um sinal de que  tinha chegado o tempo para se unir numa fé, que tinha sido fundadas por Pedro o pescador, mas também por Paulo, o intelectual».
 fonte: L’Osservatore Romano, 28-06-2013


quarta-feira, 26 de junho de 2013

TEM RAPARIGA AÍ? SE TEM, LEVANTE A MÃO!


‘Tem rapariga aí? Se tem, levante a mão!’. A maioria, as moças, levanta a mão. Diante de uma plateia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, e todas bandas do gênero). As outras são ‘gaia’, ‘cabaré’, e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.
Pra uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.
Porém o culpado desta ‘desculhambação’ não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando- se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de ‘forró’, parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo est tico. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo.
Aqui o que se autodenomina ‘forró estilizado’ continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem ‘rapariga na plateia’, alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é ‘É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!’, alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.


Ariano Suassuna

sábado, 22 de junho de 2013

O MAIOR AMOR E AS COISAS QUE SE AMAM


 
 Tomara poder desempenhar-me, sem hesitações nem ansiedades, deste mandato subjetivo cuja execução por demorada ou imperfeita me tortura e dormir descansadamente, fosse onde fosse, plátano ou cedro que me cobrisse, levando na alma como uma parcela do mundo, entre uma saudade e uma aspiração, a consciência de um dever cumprido.

 Mas dia a dia o que vejo em torno meu me aponta novos deveres, novas responsabilidades da minha inteligência para com o meu senso moral. Hora a hora a (...) que escreve as sátiras surge colérica em mim. Hora a hora a expressão me falha. Hora a hora a vontade fraqueja. Hora a hora sinto avançar sobre mim o tempo. Hora a hora me conheço, mãos inúteis e olhar amargurado, levando para a terra fria uma alma que não soube contar, um coração já apodrecido, morto já e na estagnação da aspiração indefinida, inutilizada.

 Nem choro. Como chorar? Eu desejaria poder querer (desejar) trabalhar, febrilmente trabalhar para que esta pátria que vós não conheceis fosse grande como o sentimento que eu sinto quando n'ela penso. Nada faço. Nem a mim mesmo ouso dizer: amo a pátria, amo a humanidade. Parece um cinismo supremo. Para comigo mesmo tenho um pudor em dizê-lo. Só aqui lho registro sobre papel, acanhadamente ainda assim, para que nalguma parte fique escrito. Sim, fique aqui escrito que amo a pátria funda, (...) doloridamente.

 Seja dito assim sucinto, para que fique dito. Nada mais.

 Não falemos mais. As coisas que se amam, os sentimentos que se afagam guardam-se com a chave daquilo a que chamamos «pudor» no cofre do coração. A eloquência profana-os. A arte, revelando-os, torna-os pequenos e vis. O próprio olhar não os deve revelar.

 Sabeis decerto que o maior amor não é aquele que a palavra suave puramente exprime. Nem é aquele que o olhar diz, nem aquele que a mão comunica tocando levemente noutra mão. É aquele que quando dois seres estão juntos, não se olhando nem tocando os envolve como uma nuvem, que lhes (...)  Esse amor não se deve dizer nem revelar. Não se pode falar dele.

 

Fernando Pessoa, in _Inéditos

domingo, 16 de junho de 2013

Festa é o lugar de reunir parentes e amigos. No nosso caso bem feitores. Por isso, venho agradecer a todos que estiveram presentes no Seminário São João Maria Vianney  abrilhantando o Arraiá São Cura D'ars. Foi uma festa muito proveitosa, onde os participantes puderam conhecer um pouco mais desta casa de formação e conhecer também os seus formandos. Só amamos quem conhecemos e, conhecendo eu posso falar da experiência feita com o conhecido. Diante disso, digo-vos que valeu a pena! como imortalizou o poeta Fernando Pessoa: "tudo vale a pena quando a alma não é pequena".
O bispo Dom Joel Ivo Catapam, antes de concluir a sua missão e partir para a casa do Pai, dizia, que "quem cuida das vocações tem um lugar privilegiado no coração de Deus". Que Deus acolha no sue coração misericordioso e abençoe a todos de forma bem particular: a quem trabalho, quem doou, a quem comprou e a quem participou. Se não fosse vocês,esta festa não teria acontecido.

Com a benção de Pastor e amigo.

Pe. José Antonio dos santos

domingo, 2 de junho de 2013


A presença de Deus entre os seus escolhidos sempre fez parte de uma verdadeira fé. A Igreja Universal, a sabe, católica apostólica romana, às 13 horas, horário de Brasília, prestou culto de adoração ao Senhor Deus Altíssimo na Santíssima Eucaristia. A arca da aliança era o escabelo do seu trono universal e sinal permanente da sua presença durante o período entre o Sinai e o templo de Salomão. Depois d Davi e Salomão, Jerusalém tornou-se a cidade de Deus e o Templo à sua casa. Com a vinda de Cristo Jesus nosso Senhor, Deus habita entre os seus de forma humana. Querendo ele permanecer de modo sacramental, instituiu a Eucaristia. Nela, adoramos a Cristo, presente e real, que só a fé nele faz-nos crê.

© Pe. José Antonio dos Santos.

Arte de amar




Somos a soma daquilo que é vivido, subtraído no presente, multiplicado para o futuro. Isso em todo aspecto da vida. Adquirimos teorias e aperfeiçoamos práticas. Entre teoria e praticas, tem uma práxis, que a teoria efetivada na pratica, sempre buscou da conta daquilo que sempre defendemos e exaltamos com todo ímpeto, que chamamos de amor. Este amor, quando romanceado nos leva a um deleite sem igual. Quando o trazemos para a vida real, ele continua a trazer o mesmo deleite. Contudo com um diferencial. Sou eu que agora vivo este relacionar-se com o outro(a), e também vejo que este outro(a), real, me custa muito, dentro de meu  mundo ideal. O meu mundo ideal pertence mim. O outro(a) comunga com minha ideia de mudo, de vida, de amor.


O amor para ser vivido em sua inteireza ele precisa antes ser concebido e criado. Veja o escultor. Da madeira, da pedra: materiais resistentes, o escultor concebe no seu ideal o que ele pode trazer para o real: a escultura. Ele lasca a pedra ou a madeira com brutal força até a material prima dar forma àquilo que ele idealizou.


Chega o memento que não é mais preciso a força bruta. É, pois, a vez do polimento. Fruímos do prazer de contemplar o real que o ideal projetou.


Amor é essa práxis: teoria e prática. Ideia e busca de sua realização.


Ninguém nasce sabendo amar. Nasce com a necessidade amor e para merecê-lo aprende amar. E “amar só se aprende amando”. Exigindo e renunciando. Exigindo atenção, e renunciando aquilo que leva o(a) amado(a) a se conflitar. O amor não exige nada, mas amar exige tudo. Em primeiro lugar, a cumplicidade de quem ama. O amor é paciente e prestativo. Não é invejoso, arrogante nem orgulhoso e nada faz de inconveniente.  Não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (1 Cor 13, 4-5.7).





© Pe. José Antonio dos Santos