At.: Lucas revela uma de suas intenções fundamentais: que a salvação trazida por Jesus Cristo para todos os povos. Pedro é o primeiro a romper barreiras. O anúncio de Pedro é fundamental em seu próprio testemunho e no de várias pessoas: “Nós bebemos e comemos com ele, após sua ressurreição dentre os mortos” (At.10,39).
A fé na ressurreição, porém, não se processa da mesma maneira em todas as pessoas. A verdade da ressurreição mexe com a nossa vida, como aconteceu com as primeiras testemunhas.
A fé na ressurreição imprime um novo dinamismo na nossa caminhada terrena.
A comunidade cristã da cidade de colossas manifesta um certo distanciamento das verdades fundamentais da fé influenciada por certas tendências da época: forças cósmicas, vãs filosofias etc.
Hoje comemoramos a nossa emancipação política, porque comemorar a emancipação de um estado ou município é comemoramos a nossa emancipação. Em 1886, Belo Monte foi elevada à condição de vila. Contudo, só em 1958 conseguiu sua autonomia. Consoante meus cálculos, Belo Monte completa hoje seus qüinquagésimo terceiro aniversário de emancipação. O dicionário Aurélio diz em seus verbetes que emancipação é libertação e aquisição dos direitos civis. Liguemos libertação à ressurreição, pois Cristo veio libertar os cativos e, a aquisição dos direitos civis traz consigo seus deveres.
Aqui quero falar do bispo de Hipona, Santo Agustinho (bispo entre 396 e 430). A partir de Agostinho, predomina uma concepção intuicionista do pensamento moral, segundo a qual a consciência é uma faculdade inata que revela a lei moral de Deus, inscrita na alma dos homens. Nesse sentido, as “leis naturais” inscritas no homem são mandamentos divinos e não simples disposições que favoreçam o desenvolvimento humano. O tema central da filosofia de Agostinho será a alma que vive no mundo, mas com Deus. O diálogo que o homem pode manter consigo próprio é, ao mesmo tempo, diálogo com Deus.
Para Agostinho, todas as coisas estão submetidas à lei divina que ilumina nossa inteligência. Contudo, não basta que o homem conheça a lei, é preciso querê-la, e com isto se coloca a questão da vontade.
A história humana é uma luta entre dois reinos: entre o de Deus e o do Mundo, entre a cidade terrena e a cidade de Deus. Tanto a ética quanto a política devem partir do pressuposto de que o fim último do homem é descobrir Deus, que reside na alma humana – é a busca de Deus na interioridade. O destino do homem não pode se realizar na ordem natural, porque o homem almeja algo para além da ordem do mundo. O homem não é só vida, mas também espírito. Portanto, cada homem tem um destino sobrenatural e sua vida terrena é apenas uma prova, e nunca o fim.
Todo problema moral é sempre uma questão de decidir entre o Bem e o Mal. A vontade, graça divina, em si mesma é um bem; mal é o uso que o homem dela faz, sendo o pecado justamente o mau uso da graça. O mal não reside, pois, nas coisas, mas no amor que destinamos às coisas, quando as preferimos a Deus. O mal está no uso inadequado da graça divina; está na vontade que subordina os bens superiores aos inferiores. Então, a liberdade humana não é absoluta. Adão perdeu a plena liberdade que Deus havia concedido ao homem. Resta-lhe apenas a liberdade de escolha, o que não o livra do mal, uma vez que pode ainda escolhê-lo.
A idéia agostiniana de uma “consciência moral” que só funciona se a vontade aderir ao conhecimento deriva da noção de ascese “de Platão”. A graça divina que é a vontade humana deve funcionar do seguinte modo: o amor atrai uma alma até Deus do mesmo modo que o peso atrai um corpo para a terra. Mas, como Deus está em cima, a direção da atração da alma é “para cima”, isto é, a direção correta para a alma é a de uma fuga para longe do mundo. Isto desloca, definitivamente, a atenção moral para o estado mental do agente (o interior). Duas pessoas podem realizar atos do mesmo tipo, mas talvez só uma possa ter mérito moral nisso, ao fazê-lo por amor e não pelo desejo de ser reconhecido (farisaísmo). Emerge, assim, a noção cristã da “intenção”. Os pecados podem ser cometidos não apenas por atos visíveis, como se vê na concepção grega de “falta moral”, mas também por palavras e intenções.
Não nos distanciamento das verdades fundamentais da fé como quisera fazer a comunidade de colossas. Cristo vive, ontem, hoje e sempre.
Feliz Páscoa.