domingo, 24 de abril de 2011

MISSA DO DIA DE PÁSCOA e da Emancipação política de Belo Monte-AL


At.: Lucas revela uma de suas intenções fundamentais: que a salvação trazida por Jesus Cristo para todos os povos. Pedro é o primeiro a romper barreiras. O anúncio de Pedro é fundamental em seu próprio testemunho e no de várias pessoas: “Nós bebemos e comemos com ele, após sua ressurreição dentre os mortos” (At.10,39).
A fé na ressurreição, porém, não se processa da mesma maneira em todas as pessoas. A verdade da ressurreição mexe com a nossa vida, como aconteceu com as primeiras testemunhas.
A fé na ressurreição imprime um novo dinamismo na nossa caminhada terrena.
A comunidade cristã da cidade de colossas manifesta um certo distanciamento das verdades fundamentais da fé influenciada por certas tendências da época: forças cósmicas, vãs filosofias etc.
Hoje comemoramos a nossa emancipação política, porque comemorar a emancipação de um estado ou município é comemoramos a nossa emancipação. Em 1886, Belo Monte foi elevada à condição de vila. Contudo, só em 1958 conseguiu sua autonomia. Consoante meus cálculos, Belo Monte completa hoje seus qüinquagésimo terceiro aniversário de emancipação. O dicionário Aurélio diz em seus verbetes que emancipação é libertação e aquisição dos direitos civis. Liguemos libertação à ressurreição, pois Cristo veio libertar os cativos e, a aquisição dos direitos civis traz consigo seus deveres.
Aqui quero falar do bispo de Hipona, Santo Agustinho (bispo entre 396 e 430). A partir de Agostinho, predomina uma concepção intuicionista do pensamento moral, segundo a qual a consciência é uma faculdade inata que revela a lei moral de Deus, inscrita na alma dos homens. Nesse sentido, as “leis naturais” inscritas no homem são mandamentos divinos e não simples disposições que favoreçam o desenvolvimento humano. O tema central da filosofia de Agostinho será a alma que vive no mundo, mas com Deus. O diálogo que o homem pode manter consigo próprio é, ao mesmo tempo, diálogo com Deus.
Para Agostinho, todas as coisas estão submetidas à lei divina que ilumina nossa inteligência. Contudo, não basta que o homem conheça a lei, é preciso querê-la, e com isto se coloca a questão da vontade.
A história humana é uma luta entre dois reinos: entre o de Deus e o do Mundo, entre a cidade terrena e a cidade de Deus. Tanto a ética quanto a política devem partir do pressuposto de que o fim último do homem é descobrir Deus, que reside na alma humana – é a busca de Deus na interioridade. O destino do homem não pode se realizar na ordem natural, porque o homem almeja algo para além da ordem do mundo. O homem não é só vida, mas também espírito. Portanto, cada homem tem um destino sobrenatural e sua vida terrena é apenas uma prova, e nunca o fim.
Todo problema moral é sempre uma questão de decidir entre o Bem e o Mal. A vontade, graça divina, em si mesma é um bem; mal é o uso que o homem dela faz, sendo o pecado justamente o mau uso da graça. O mal não reside, pois, nas coisas, mas no amor que destinamos às coisas, quando as preferimos a Deus. O mal está no uso inadequado da graça divina; está na vontade que subordina os bens superiores aos inferiores. Então, a liberdade humana não é absoluta. Adão perdeu a plena liberdade que Deus havia concedido ao homem. Resta-lhe apenas a liberdade de escolha, o que não o livra do mal, uma vez que pode ainda escolhê-lo.
A idéia agostiniana de uma “consciência moral” que só funciona se a vontade aderir ao conhecimento deriva da noção de ascese “de Platão”. A graça divina que é a vontade humana deve funcionar do seguinte modo: o amor atrai uma alma até Deus do mesmo modo que o peso atrai um corpo para a terra. Mas, como Deus está em cima, a direção da atração da alma é “para cima”, isto é, a direção correta para a alma é a de uma fuga para longe do mundo. Isto desloca, definitivamente, a atenção moral para o estado mental do agente (o interior). Duas pessoas podem realizar atos do mesmo tipo, mas talvez só uma possa ter mérito moral nisso, ao fazê-lo por amor e não pelo desejo de ser reconhecido (farisaísmo). Emerge, assim, a noção cristã da “intenção”. Os pecados podem ser cometidos não apenas por atos visíveis, como se vê na concepção grega de “falta moral”, mas também por palavras e intenções.
Não nos distanciamento das verdades fundamentais da fé como quisera fazer a comunidade de colossas. Cristo vive, ontem, hoje e sempre.
Feliz Páscoa.

sábado, 23 de abril de 2011

trido pascal

 Eis o Altar da reposição
Senhor morto. Após o Ofício da Paixão do Senhor houve sua procissão.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

As estações da Via-Sacra (Dom Marcos Barbosa)


Dom Marcos Barbosa, OSB
Caro(a) Internauta, ofereço-lhe, neste tempo da Quaresma, esta estupenda Via-Sacra em sonetos, de autoria do ilustre monge beneditino do Mosteiro do Rio de Janeiro, Dom Marcos Barbosa. Os sonetos foram tirados do livro Poemas do Reino de Deus, Livraria José Olympio Editora, 1980. O livro todo é muito belo e vale a pena ser lido. Dom Henrique, Bispo auxiliar de Aracaju - SE, fez algumas notas para ajudar-nos na compreensão dos sonetos.
I. Jesus é condenado à morte
De pé. Eis o juiz. Qual o teu crime?
Tu te pretendes Rei, tu mesmo o dizes.
E o diz esta coroa que te cinge,
e o farrapo vermelho, e esse caniço...
Vai dizê-lo o cartaz da tua cruz:
“Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus”.
Teu povo não o quer; só quer teu sangue.
Mas Deus já o escreveu, como Pilatos.
Anatole[1] garante: muito em breve
Este Procurador vai esquecer-te:
“Jesus de Nazaré?... Não me recordo...”
Prócula[2] esquecerá o aflito sonho.
Mas ficarás eterno, espinho ou favo,
no coração dos homens e do mundo.
II.Jesus com a cruz às costas
Agora toma a cruz. Abraça e beija
a doce companheira que escolheste;
filho do Carpinteiro, bem conheces
o peso, o cheiro, a forma, a cor dos troncos...
Deita-te sobre a esposa, pobre noivo;
desposa eternamente a sua forma:
só de braços abertos é que os homens
irão reconhecer-te pelos séculos.
Mas, antes de esposá-la, põe-na ao ombro
com precauções de médico e de amigo:
eis que encontraste a ovelha desgarrada.
Que somos Madalena, e eu, e Dimas,
e todos que consentem que os levante
teus braços por um pouco ainda libertos...
III. Jesus cai pela primeira vez
São quatorze estações e faltam doze,
como os Doze te faltam neste instante;
fugiram todos, só deixando um rastro:
o beijo que se alastra no teu rosto...
Uma estação a mais se cumpre agora,
a da primeira queda: eis-te no chão,
joelho machucado, mãos feridas,
como outrora voltavas do brinquedo...
É somente a primeira, e já quiseras
não mais te levantar. Mas é preciso:
quem jamais te faltou vem procurar-te[3].
É preciso que vejas no seu rosto
teu rosto refletido, e então verás
o quanto ela te ama, e o que fizemos...
IV. Jesus encontra-se com sua Mãe
Vinte anos depois saiu de novo
buscando-te nas praças e nas ruas:
“Vistes, acaso, ó guardas da cidade,
o menino Jesus já homem feito?
Ele anuncia a Boa-Nova aos pobres,
Dá vista ao cego e os mortos ressuscita...”
E os guardas da cidade se afastando,
deixam-lhe ver aquele que conduzem.
“Eis o homem das dores, o menino,
o Deus que trouxe outrora no meu seio.
Como ele à cruz, abraço a minha espada!
Ó todos que passais, parai e vede
se há dor igual à minha... Só a dele,
que se reflete em mim, partido espelho...”
V. Simão Cirineu ajuda Jesus a carregar a cruz
Quiseste precisar da criatura,
tu, que a tudo criaste num aceno:
à mais pura mulher pediste um corpo,
à mais doce das mães, o casto leite.
Pedes agora força a um pobre homem:
e este Simão que volta do trabalho,
ansioso pela sopa e pela cama,
te ajuda a carregar a dura cruz.
Complete o pecador em sua carne
o que falta à paixão do Salvador,
que apenas para isso quis poupar-se...
E até hoje nos diz, e não ouvimos:
“Pára um instante, ajuda o teu irmão
a transportar um pouco o seu destino!”
VI. Verônica enxuga o rosto de Jesus
Ela chegou depressa, essa mulher...
E, antes que os soldados compreendessem
qual o intento visado por seu gesto,
abriu diante de ti um lenço branco.
Ó tela para um quadro nunca visto,
ó gaze para o rosto todo em chagas,
toalha a recolher cada migalha,
ó véu de noiva posto sobre o esposo!
E agora eis teu rosto eternamente,
multiplicado e exposto a cada canto,
fitando ternamente a nossa face.
Para esquecer-me, então, fecho os meus olhos,
talvez como Caim, E eis que na treva
desenha-se o teu rosto e o meu remorso...
VII. Jesus cai pela segunda vez
Mais uma vez caíste, e era preciso:
a queda é nosso pão de cada dia;
tu desposas assim nossa fraqueza,
ungindo-a com teu óleo e tua força.
Mais uma vez caíste e te levantas,
pois vieste viver nossa aventura,
conhecer inocente cada chaga
que o pecado abre em nós, quando tombamos...
É o meio do caminho e da jornada,
quando nos vem mais forte a tentação
de mudar de repente o itinerário...
Levanta e toma a cruz que desposaste,
não olhes como nós para Sodoma,
são quatorze estações e faltam sete!
VIII. Jesus consola as filhas de Jerusalém
“Ah, não choreis por mim, chorai por vós,
pelos filhos que vão e não mais voltam,
pelos que ceifa a guerra e os que no vício
sepultam corpo e alma, amor e sexo.
Ah, não choreis por mim nem por aquela
que caminha convosco, atravessada
por mil punhais lançados pelos homens,
saltimbancos de um circo sem piedade.
Ah, não choreis por ela; eu voltarei:
hei de enxugar-lhe eu próprio as suas lágrimas,
hei de fechar-lhe as chagas com meus beijos.
Farei dos seus punhais um resplendor
para cingir o seio da que soube
dar à luz duas vezes o seu Filho...”
IX. Jesus cai pela terceira vez
Ó pássaro atingido em pleno vôo,
ó estrela ao cair riscando a noite,
ó soldado tombado na trincheira,
atleta atravessado pelo dardo!
Onde o ancião tomando-te nos braços?
A Virgem que te deu por trono o seio?
Os reis com seu incenso e sua mirra?
O burrinho que há dias te levava?
Tomba o cedro ao machado, e ergue-se a casa.
Tomba o suor, e o solo é fecundado.
Tomba o pranto da face, e então sorrimos.
Tomba o trigo no chão, e brota a espiga.
Tomba o sol no poente, mas ressurge.
Terceira e última vez o Cristo tomba...
X. Jesus é despojado de suas vestes
Já foi o novo Adão arrebatado
do jardim que escolhera: o da Agonia.
Exponhamos também sua nudez
aos olhos das mulheres e dos anjos!
Tiremos dele a túnica inconsútil,
inteira como a Virgem que a teceu,
e o manto que abrigava as criancinhas,
agora em quatro partes dividido.
Despojemo-lo ainda de outra veste,
dessa veste que é nossa e nos roubou,
e que vestiu por nós: a humanidade.
Veste os lírios do campo, e nós no entanto
Vamos despi-lo até da nossa carne,
Que recebeu no seio de Maria...
XI. Jesus é pregado na cruz
O amor que move o sol e cada estrela
moveu-te a abrir os braços como um astro,
para brilhar eterno na montanha,
unindo norte e sul, nascente e ocaso.
Só o amor te moveu, e logo os homens
hão fixado do amor o gesto aberto:
preso estás nesta cruz, ó pobre escravo,
já não podes fechar esta braçada!
Mas pregamos-te agora, ainda hoje,
pois movemos os braços dos que outrora
ergueram contra os teus martelo e cravo[4].
Sim, pregados estão, e só te restam
a boca que se move e que perdoa,
a cabeça que pende para olhar-me...
XII. Jesus morre na cruz
Jesus morre na cruz, rosa-dos-ventos.
Ao norte está seu Pai, que esconde a face;
Ao oriente, a Mãe que desfalece;
Ao sul, a soldadesca que blasfema;
Mas ao poente, o ladrão que se converte.
Que vê um Deus no homem feito verme,
E ouve dos seus lábios a promessa:
“Hoje mesmo estarás em minha casa,
hás de comer comigo à minha mesa,
hei de beijar-te os pés, as mãos, a face...
Ó ovelha encontrada à última hora,
ó espiga colhida ao sol poente,
ó Igreja nascida do meu lado!
XIII. Jesus é descido da cruz
O que arremessa espadas, ó Maria,
todas sete acertou em pleno alvo:
teu alvo coração imaculado;
pálido lírio erguido ao pé da cruz.
“Mãe, eis o teu filho..” ele dissera
e te entregou João e a humanidade;
recebe agora o corpo que é descido,
enquanto as almas sobem para a glória.
Eis-te sentada, enfim, tu que estiveste
de pé o tempo todo. Mas não penses
que é chegado o momento do repouso.
Abraça, mãe dos Gracos[5], tuas jóias:
Neste filho Jesus, teus filhos todos,
Esses rubis de sangue em teu regaço...
XIV. Jesus é colocado no sepulcro
Sepultaram-no às pressas. Vinha o Sábado,
o dia do repouso em Deus vira
Como era bela e boa a criação.
Sepultaram-no às pressas. Vinha o Sábado.
Repousa agora o Filho e vê também
como foi bela e boa a sua obra,
de renovar o mundo que morrera,
de abrir com sua cruz o Paraíso.
Está lacrado o túmulo de pedra.
Os soldados o guardam, mas o anjo
já vai soar a tuba da vitória.
E, no Primeiro Dia da semana,
Explode de repente a sepultura,
E o Cristo avança... É o Dia do Senhor!
[1] Anatole é um historiador romano que, numa de suas obras, afirmava que Pilatos, já velho, não se lembrava do processo desse “tal Jesus”...
[2] Prócula é a esposa de Pilatos, que segundo Mt 27,19, sonhou com Jesus na noite da quinta para a sexta-feira santa.
[3] A Virgem Maria
[4] Refere-se aos judeus e as perseguições contra eles, muitas vezes movidas pelos cristãos.
[5] Refere-se à Cornélia Graco, mãe de Tibério e Caio Graco. Ela viveu no século II antes de Cristo. Seus filhos foram tribunos romanos. Ela teve doze filhos, mas somente lhe restaram os dois, Tibério e Caio, que criou sozinha, pois era viúva. Certa vez, uma rica dama romana mostrava-lhes as jóias. Ela olhou para os filhos e exclamou: “Eis aqui as minhas jóias!” Seus filhos, um após o outro, foram assassinados por tentarem colocar em prática reformas em Roma favorecendo os pobres. Ela os apoiou até o fim e suportou bravamente a morte deles.

fonte: http://www.domhenrique.com.br/index.php/variedades/602-as-estacoes-da-via-sacra-dom-marcos-barbosa